3.6.08

Da poesia


Eu não digo que a minha firewall funciona muito bem, que história!
Quase todos os dias o meu dia começa na Antena 2 com o Paulo Alves Guerra, e que bela forma de começar o dia. Hoje, o meu convidado, ou do Paulo Alves Guerra, que importa, foi um poeta, o poeta Ivo Machado, e vejam só que história ele trouxe:

O poeta, que à época ainda não era poeta mas só escritor, era também controlador aéreo na ilha de Santa Maria. Num dia dos anos oitenta do século vinte um piloto solitário, outro poeta, navegava sobre o Atlântico e vê-se subitamente em grandes apuros. A aflição do poeta piloto é detectada em Santa Maria e Ivo Gonçalves tem por missão estabelecer e manter o contacto com o piloto até que outra ajuda lhe possa chegar. Foi aqui que eu comecei a ouvir o relato, o que está para trás reconstruí-o depois. Quando lhe pergunta se está sozinho, o piloto, que não, estou eu e os meus livros. E que livros lê? o piloto fala de uma poetisa americana, Conhece? O controlador diz que não e pergunta ao piloto se conhece poesia portuguesa. Que não. A conversa não pode parar ali, o controlador traduz e recita toda a poesia portuguesa que lhe vem à cabeça, Sophia, Pessanha...quando esgota tudo o que sabe de cor lembra-se que tem com ele um poeta americano e durante o que resta de uma hora trocam poesia, a poesia é que nos salva, a poesia é que nos salva. O piloto muito tranquilo, quando eu chegar à Califórnia...

Já aviões canadianos o sobrevoam, o pequeno avião amarou e o controlador aéreo pode enfim repousar. Mais tarde sabe-se que, quando chegaram os socorros, o pequeno avião vogava calmamente nas águas do Atlântico, mas o piloto estava morto, um instrumento de bordo tinha-lhe acertado na nuca.

Nota: a história pode não ser bem esta em todos os detalhes, porque a apanhei a meio, porque por vezes a confusão do trânsito me pode ter desviado a atenção do essencial. Que o poeta Ivo Machado me perdoe o ter-lhe roubado a história nesta escrita atamancada.

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